Uma coisa aprendi na minha vida de oração: muitas vezes, Deus não responde nossas orações como esperamos. De fato, as respostas de Deus podem vir das maneiras mais estranhas e inesperadas. Os pensamentos dEle são diferentes dos nossos pensamentos.
Vamos a alguns exemplos.
Um jovem cristão pode orar por uma esposa e esperar que Deus a envie embrulhada como um presente no próximo culto de domingo. Um jovem mais afoito pode fazer diferente: ele ora no domingo esperando conhecer sua noiva na segunda-feira.
Alguém pode querer se livrar da timidez e, após orar ao Senhor, pensar que está preparado para falar diante de 4 mil pessoas. Ou quem sabe, que suas crises de ansiedade desapareceram magicamente.
E, quanto a vida profissional?
Um empresário motivado pode orar para Deus abençoar seu empreendimento e esperar que no dia seguinte três novos clientes apareçam. Outro, ainda mais motivado que o primeiro, pode esperar que “magicamente” apareça mais dinheiro no caixa da sua empresa. E existe aquele que ora para que Deus pague suas contas mal planejadas.
Não me entenda mal, eu creio em milagres. Não duvido que os exemplos citados possam acontecer exatamente da forma como relatei. Creio na Providência, até para os menores detalhes (Mateus 10:29). Há muitas coisas embaixo do céu que não consigo entender e já ouvi muitos testemunhos impactantes.
Todavia, normalmente não é assim que as orações parecem ser respondidas.
Os processos de Deus
“Estou certo que Deus não deixa ninguém esperando, a não ser que isso se mostre bom para essa pessoa”.
C. S. Lewis
Quando tinha 13 anos, eu disse a meu pai que queria aprender a dirigir. Meu pedido foi exatamente esse e a resposta foi sim. Todavia, na minha cabeça, ele ia dizer duas ou três palavras sobre como dar a partida, como acelerar e frear, e pronto, chaves na mão! Era isso o que eu esperava.
De fato, meu pai me ensinou a dirigir. Contudo, primeiro ele me levou a uma praia deserta e, depois de várias explicações, me ensinou a difícil arte de dar partida sem deixar o carro “morrer”. Eu imaginava que ia aprender a dirigir já na cidade em dez ou vinte minutos e depois ter as chaves do carro à disposição para quando quisesse sair. Ledo engano, pois isso só foi acontecer aos 17 anos por motivos óbvios (carteira de motorista e experiência no volante).
O processo de aprendizado foi muito frustrante porque acontecia num lugar deserto e em “pequenas doses”. Quando eu estava quase pegando o jeito, a aula de volante terminava. O processo não tinha muita “graça”, mas era necessário que fosse assim. Aliás, enfrentar processos de aprendizado pode ser uma experiência muito frustrante.
Por toda a Bíblia, vemos Deus agindo por processos. Processos nos ensinam e nos preparam. Deus podia ter enviado uma arca pronta para Noé, mas não. Ele desejou que Noé passasse longos anos no processo de construção.
Às vezes, oramos por algo que não estamos preparados para receber. Então, Deus possibilita experiências que nos preparam e nos fazem alcançar aquilo que desejávamos.
Oramos por algo, mas Deus escolhe nos preparar para receber esse algo. Ele responde nossas orações, mas nem sempre do jeito que esperamos!
Você será testado após a oração
“Os males permitidos que se abatem sobre os justos não são males. São só oportunidades que a Providência divina oferece para a prática das virtudes”.
Sêneca
Se você ora por fé, terá a fé testada. Se você ora para ter mais paciência, sua paciência será testada.
Sou prova disso, porque uma vez pedi paciência e humildade, e Deus me enviou um vizinho insuportável! A maneira como a fé e a paciência, bem com outras virtudes, são desenvolvidas é através de experiências.
Se você ora para ter mais amor, Deus colocará pessoas na sua vida para você desenvolver o amor. Se você ora por uma bênção na vida profissional, Ele lhe dará meios para você desenvolver as habilidades necessárias para crescer profissionalmente. Se você ora para descobrir o seu propósito de vida, Deus lhe dará experiências que trarão mais clareza acerca do seu chamado.
Deus age por processos e, muitas vezes, nos responde de uma forma inesperada, incluindo até mesmo alguns males na resposta (lembra do meu vizinho?). Contudo, não se preocupe, tudo concorre para o nosso crescimento.
Quando você for orar, lembre-se disso.
Cuidado com o que você pede
A oração não se resume a um mural de pedidos em que você recebe tudo o que pede, da forma como espera. Paulo pediu para Deus arrancar seu “espinho na carne”, mas a resposta foi não. O filho pediu, mas o Pai disse não.
Dura realidade.
A oração é um processo de relacionamento e transformação. Não peça se você não está disposto a enfrentar os processos. Cuide com seus pedidos, porque você será testado naquilo que pedir.
Esteja preparado para enfrentar as experiências que seus pedidos requerem. Orar não é só pedir coisas, é pedir transformação.
Finalizo com esta reflexão de Kierkegaard:
“A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora”.
Kierkegaard
O que você acha disso? Escreva nos comentários.
Avançando para o Alvo,
Ramon Tessmann