Quer saber sobre o divórcio na Bíblia? O que Deus pensa sobre o divórcio? O que a Bíblia fala sobre adultério? Um casal crente pode se divorciar? Se o casamento for “misto”, pode haver rompimento? Depois de um divórcio, posso me casar novamente? O que fazer em caso de violência doméstica? Se eu for abandonado? Se meu cônjuge vier a falecer? O que acontece?
Perguntas como essas são mais comuns do que você imagina. O tema “divórcio” sempre foi muito controverso no meio cristão. Em certos lugares, é um assunto praticamente intocado, o que dá vazão para infindáveis dúvidas e “achismos”.
Se você for para o campo da teologia, encontrará diversas correntes de pensamento. Multiplique isso por igrejas, culturas e épocas da história, e você facilmente se afogará em um mar de interpretações diferentes. Todas elas alegando estarem fundamentadas na Bíblia!
Depois que retomei meu canal no Instagram e comecei a responder diversas dúvidas, passei a receber uma enxurrada de perguntas sobre casamento e divórcio. Então, decidi enfrentar o tema e fazer um estudo minucioso dos textos bíblicos que o abordam.
Neste material, me propus a “passear” pelas Escrituras apresentando e comentando todos os textos relacionados na ordem em que eles aparecem na Bíblia. Minha missão é pura e simplesmente trazer mais conhecimento e esclarecimento para o povo cristão de modo que as pessoas possam tomar decisões mais sábias (e bíblicas).
Antes de iniciarmos a jornada, eu gostaria de fazer algumas observações importantes. Antes disso, preciso avisá-lo que este texto é parte integrante do meu livro gratuito “Como chegamos aqui? – Um guia sobre separação e divórcio na Bíblia”, que você pode baixar gratuitamente aqui.
Agora, vamos às observações iniciais:
Primeiro, este material não é sobre minha opinião ou sobre alguma “solução bíblica” que descobri para os complexos problemas do casamento. Meu desejo é trazer ao seu conhecimento algumas das interpretações mais comuns que pude encontrar para enriquecer o debate. Mesmo onde há considerações pessoais, isso não significa que daqui a um, dois ou dez anos eu não possa mudar minha opinião ao estudar com maior profundidade. O pastor John Piper, um dos mais renomados de nossa era, após mudar de opinião sobre o tema, escreveu:
“Eu não afirmo que encontrei ou disse a última palavra nesta questão, nem que eu estou além de correção caso prove-se que estou errado. Estou ciente de que homens mais piedosos que eu tiveram opiniões diferentes”.
John Piper
Segundo, um tema tão importante como esse não pode ser estudado de forma imprudente, sem os devidos cuidados. Uma das práticas que mais causa confusão é a pessoa ler um ou outro versículo isolado e julgar que compreendeu o divórcio na Bíblia. Basta você entrar nas redes sociais e ver como as pessoas “cospem” versículos decorados totalmente fora de contexto para defender suas opiniões.
Se cremos que as Escrituras são divinamente inspiradas, então vale a pena dedicarmos tempo e esforço para um estudo mais amplo e cuidadoso sobre divórcio na Bíblia (ver 2 Timóteo 3:16-17). Vale aqui uma citação do bispo e pesquisador William Coleman:
“A questão da separação de um casal sempre foi um tanto nebulosa… O temperamento e a formação de cada um de nós pesa muito quando interpretamos essas passagens… Contudo, acima de nossos preconceitos e sentimentos pessoais deve estar o desejo de fazer uma interpretação séria e honesta, seja qual for o texto focalizado”.
William Coleman
Terceiro, não se baseie apenas nesse material para “formar sua opinião”. Procure livros e artigos, procure conhecer a posição de teólogos, mestres e pastores reconhecidos, que têm autoridade na Palavra.
Por último, se você faz parte de uma igreja biblicamente saudável, procure seus pastores para conhecer a opinião deles sobre o assunto e receber conselho matrimonial, se necessário. Não use este material como direção pastoral para sua vida. Ele é apenas mais um estudo disponível sobre o tema. Se você precisa de acompanhamento específico para o seu caso procure os líderes de sua igreja. Valorize-os e busque com sinceridade o conselho deles, conforme Hebreus 13:17.
Vamos começar o nosso “passeio” pelas Escrituras abordando o tema divórcio. Listarei os principais textos (na ordem em que eles aparecem na Bíblia) e farei os respectivos comentários. Ao final, trarei um resumo revisando os principais pontos do material, o que facilitará seus estudos.
Espero de coração que seja útil para você!
“Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por ter ele achado coisa indecente nela, e se ele escrever uma carta de divórcio e a entregar à mulher, e a mandar embora; e se ela, saindo da casa dele, for e se casar com outro homem; e se este passar a odiá-la, e escrever uma carta de divórcio e a entregar à mulher, e a mandar embora de sua casa ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então o primeiro marido dessa mulher, que a mandou embora, não poderá casar-se de novo com ela, depois que foi contaminada, pois é abominação diante do Senhor. Assim, vocês não farão pecar a terra que o Senhor, seu Deus, lhes dá por herança”.
Deuteronômio 24.1-4
No contexto da lei mosaica, o homem podia pedir o divórcio seguindo um processo legal, escrevendo uma carta de divórcio e mandando a mulher embora. Todavia, era necessário ter um motivo. Como se tratava de uma sociedade que supervalorizava o homem em detrimento da mulher, os motivos do divórcio foram se tornando cada vez mais fúteis, como, por exemplo, ter “mau cheiro”, ser má cozinheira ou não ter um cabelo tão bonito.
Os judeus “torciam” o texto da Lei a seu favor para dissolver um casamento sempre que quisessem, banalizando o casamento sem qualquer temor. A lei mosaica permitia que a mulher, uma vez divorciada, se casasse novamente, como se o primeiro casamento nunca tivesse acontecido. A única restrição era que o primeiro marido não poderia casar-se novamente com essa mulher, caso o segundo casamento dela fracassasse. Tal situação tornava a mulher impura, como se fosse de uma classe inferior. Essa é a permissão mosaica que os fariseus vão mencionar em Mateus 19:7 (como abordarei em breve).
É importante ressaltar que essa ideia de inferiorizar a mulher não encontra respaldo bíblico, apesar de haver certas restrições para as mulheres que não existiam para os homens. O texto de Malaquias, que será o próximo a ser abordado, mostra o cuidado que a Bíblia tem com a mulher. Logo, a inferiorização da figura feminina era fruto do preconceito cultural e da má interpretação da Lei, e não da vontade divina.
Vamos ao próximo texto, que está lá em Malaquias.
“O Senhor eliminará das tendas de Jacó aquele que fizer isso, seja ele quem for, mesmo que apresente ofertas ao Senhor dos Exércitos. Há outra coisa que vocês fazem: cobrem de lágrimas o altar do Senhor, com choro e gemidos, porque ele já não olha para a oferta nem a aceita com prazer. E vocês perguntam: “Por quê?” Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre você e a mulher da sua mocidade, a quem você foi infiel, sendo ela a sua companheira e a mulher da sua aliança. Não fez o Senhor somente um, mesmo que lhe sobrasse o espírito? E por que somente um? Porque buscava uma descendência piedosa. Portanto, tenham cuidado para que ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o Senhor, o Deus de Israel, diz que odeia o divórcio e também aquele que cobre de violência as suas roupas, diz o Senhor dos Exércitos. Portanto, tenham cuidado e não sejam infiéis”.
Malaquias 2:12-16
O contexto de Malaquias 2:12-16 aborda o divórcio dentro de um cenário de corrupção generalizada da sociedade. Estudar o divórcio na Bíblia passa por esse texto. Nessa época, o povo lamentava porque o Senhor não aceitava as ofertas e o profeta Malaquias revela alguns motivos.
Os judeus aparentavam ser zelosos no templo, mas banalizavam o casamento. Tratavam o divórcio com trivialidade. Eles maltratavam suas esposas e as trocavam facilmente por mulheres pagãs (casamentos corruptos). Trocavam mulheres mais “velhas” por mulheres mais “jovens”, às vezes, acumulando mais de uma esposa (em relações poligâmicas). Quando as mulheres se sentiam injustiçadas iam para o templo pedir ajuda, mas os sacerdotes praticavam as mesmas maldades.
O Senhor condenou toda essa afronta e no versículo dezesseis o profeta vai deixar claro que Ele odeia o divórcio. Para Deus, o divórcio indevido transmite a ideia de um “ato de violência” e uma grande injustiça. Por isso, o alerta do profeta: “…tenham cuidado e não sejam infiéis”.
Lembrando que até aqui o divórcio foi abordado dentro da realidade judaica. Não tire nenhuma conclusão apressada com base nos textos do Antigo Testamento. Eles servem para que você compreenda um pouco mais sobre o contexto da época.
Agora, vamos viajar até o livro de Mateus para começar a ver como Cristo aborda o tema.
“Também foi dito: ‘Aquele que repudiar a sua mulher deve dar-lhe uma carta de divórcio.’ Eu, porém, lhes digo: quem repudiar a sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a se tornar adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério”.
Mateus 5:31,32
Aqui, encontramos o primeiro relato de Cristo abordando a questão do divórcio. Antes de comentá-lo, preciso tornar o contexto mais familiar para você. Como vimos antes, a lei mosaica permitia o divórcio entre judeus, mas os homens passaram a interpretar a Lei de maneira excessivamente liberal, favorecendo seus desejos carnais. Existia um “duplo padrão”, em que os homens eram beneficiados em detrimento das mulheres. Eles podiam se divorciar das mulheres por qualquer motivo (fútil ou não).
Um pouco antes de Cristo, viveram dois rabinos famosos que originaram duas escolas que ainda estavam vigentes no tempo de Cristo: Shammai e Hilel. A escola de Shammai permitia o divórcio somente em caso de infidelidade conjugal. A escola de Hilel, muito mais liberal, permitia o divórcio por qualquer motivo. Os fariseus se dividiam entre essas duas escolas e o divórcio era oficializado mediante formulação da carta de divórcio.
A “carta de divórcio” foi criada por Moisés para inibir o número de casamentos e divórcios, já que dava algum trabalho para os judeus consegui-la. Era uma espécie de certificado de abandono. Isso dava à mulher permissão para casar-se novamente. A grande questão é que tudo isso era uma concessão mosaica e não uma “ordenança de Moisés”, como os judeus descaradamente pareciam defender. A dissolução do matrimônio era uma permissão mosaica e não um mandamento, como alguns gostavam de pensar.
Nesse texto, Cristo não defende, nem encoraja o divórcio, apenas menciona uma “permissão” em caso de infidelidade. Algumas traduções trazem os termos adultério, imoralidade ou relações sexuais ilícitas. Há um debate sobre se o pecado cometido é no “noivado” e não no casamento, o que não configura adultério, mas fornicação.
No entanto, deixo registrado que o pensamento mais comum aponta para Cristo estar se referindo a casamento, não a algum tipo de noivado ou namoro. Dito isso, vamos expandir um pouco mais o debate com outro texto de Mateus.
“Alguns fariseus se aproximaram de Jesus e, testando-o, perguntaram: — É lícito ao homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Jesus respondeu: — Vocês não leram que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: ‘Por isso o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne’? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, que ninguém separe o que Deus ajuntou. Os fariseus perguntaram: — Então por que Moisés ordenou dar uma carta de divórcio e repudiar a mulher? Jesus respondeu: — Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés permitiu que vocês repudiassem a mulher, mas não foi assim desde o princípio. Eu, porém, lhes digo: quem repudiar a sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério”.
Mateus 19:3-9
Neste contexto, os fariseus fazem uma pergunta capciosa para testar Cristo. Eles queriam saber como o Senhor se posicionaria sobre o tema, ao lado da escola de Hilel (mais liberal) ou segundo a escola de Shammai (mais estrita). Essa era a armadilha: se Jesus defendesse uma das escolas, ofenderia a outra.
Surpreendentemente, para responder à questão, Cristo não se dirige à lei mosaica. Ele volta à Gênesis, lançando luz sobre o plano original de Deus em relação ao matrimônio. Deus não havia criado a união entre homem e mulher de maneira arbitrária. O plano original era que a união fosse permanente, com o homem e a mulher criados um para o outro.
Não se trata apenas de uma união física, mas emocional, intelectual e espiritual. Isso implica que o rompimento dessa “uma só carne” só acarretaria más consequências, não só para os cônjuges, mas para os filhos, família, comunidade, sociedade por aí vai. Não por acaso, um divórcio sempre acaba causando sérios prejuízos para o progresso espiritual dos envolvidos.
Assim, Cristo abordou o tema de uma perspectiva muito mais elevada que as duas escolas judaicas. Basicamente, o povo nem deveria estar discutindo sobre divórcio porque num mundo ideal ele não existiria. Por isso, alguns defendem que o divórcio, na sociedade civil, é uma espécie de “mal necessário”, fruto da dureza do coração humano.
Isso é citado no versículo oito. Jesus “corrige” os fariseus ao dizer que Moisés permitiu repudiar a mulher, mas que não era assim no princípio. A lei mosaica não ordenou o divórcio, mas o “permitiu” para dissolver casamentos impossíveis e impedir crueldades contra as mulheres.
Nesse aspecto, Cristo estava discordando da escola de Hilel, que fazia do divórcio quase uma “ordenança”. O divórcio nunca seria um “bem”, mas um “mal” menor em relação aos possíveis frutos da dureza do coração do homem.
No versículo dezenove, Cristo apresenta a famosa “exceção” para o divórcio, no caso, a infidelidade. Fica claro que um judeu casado não poderia simplesmente abandonar sua mulher atual para se casar com outra, sem o motivo citado e sem o devido processo legal. Perceba que Cristo está respondendo a homens, mas o princípio se aplicaria também às mulheres. De fato, Cristo parece estar sempre elevando a importância da mulher, tirando-a de uma posição de inferioridade para uma posição mais igualitária (os fariseus chegavam a debater sobre as mulheres terem alma ou não).
Preciso deixar claro que aqui não está em discussão se a parte culpada teria o direito de casar novamente. Alguns entendem que sim, outros entendem que não. Há ainda outros que não admitem novo casamento para nenhuma das partes. Essas são especulações dificílimas, fruto de interpretações pessoais. Tal assunto (recasamento) não parece estar em discussão nesse debate com os fariseus. A discussão parece girar em torno da banalização do matrimônio.
Outro esclarecimento que faço é a respeito do final do versículo nove, onde Cristo diz “comete adultério”. Alguns defendem que quando uma pessoa divorciada se casa novamente, o “possível” adultério seria um ato singular (ato isolado, não um estado contínuo). Ou seja, a pessoa segue com o novo casamento legitimado, mas, ao ter consciência do seu ato, se arrepende, pede perdão e recomeça a vida. Isso aliviaria o problema de um casal já estar em uma nova união há um tempo, com estabilidade, civilmente legalizado, com filhos e tudo mais.
Nesse caso, seria um enorme transtorno caso se optasse por um novo rompimento. Ademais, lembre que adultério não é um pecado imperdoável, como muitos parecem pensar.
Há mais um comentário que preciso fazer. Alguns teólogos defendem que a palavra “divórcio” no contexto judeu representava, de fato, um matrimônio cem por cento encerrado. Lembre-se que a discussão de Jesus com os fariseus se baseia no texto de Deuteronômio 24.1, onde o divórcio era uma dissolução completa. Nesse caso, segundo o texto, um novo casamento seria permitido.
Outros argumentam que quando Cristo revisitou as passagens de Gênesis, ele estava rejeitando a leitura dos fariseus de Deuteronômio 24.1, concluindo que: “…ninguém separe o que Deus ajuntou”.
Novamente, todas essas interpretações são conjecturas pessoais e de dificílimas análises. Realmente, o divórcio na Bíblia é um tema complexo.
“E, aproximando-se alguns fariseus, o puseram à prova, perguntando: — É lícito ao marido repudiar a sua mulher? Jesus respondeu: — O que foi que Moisés ordenou a vocês? Eles disseram: — Moisés permitiu escrever uma carta de divórcio e repudiar. Mas Jesus lhes disse: — Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés deixou escrito esse mandamento. Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. ‘Por isso o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.’ De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, que ninguém separe o que Deus ajuntou. Em casa, os discípulos voltaram a fazer perguntas sobre esse assunto. E Jesus lhes disse: — Quem repudiar a sua mulher e casar com outra comete adultério contra aquela. E, se ela repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério”.
Marcos 10:2-12
Neste texto, diferente dos outros, não há nenhuma cláusula de exceção para o divórcio. As exceções aparecem na lei mosaica, em Mateus, em Romanos e em 1 Coríntios, mas não aparecem em Marcos e Lucas. Aqui, algumas perguntas podem surgir: O texto de Marcos 10:2-12 é exaustivo? Ele esgota o assunto? O texto é prescritivo? Ele está fixando uma resposta definitiva sobre o assunto? Se trata de um texto referencial? Cristo está respondendo apenas com base nos assuntos de Deuteronômio 24 ou se refere a todas as situações? São boas perguntas para os estudiosos.
No versículo seis, Cristo novamente realça o livro de Gênesis, colocando o plano original de Deus acima da exceção da lei mosaica. O teólogo Russel Champlin argumenta que Cristo parece não ver o “mesmo nível” de verdade em todas as revelações. Assim, a permissão para o divórcio, apesar de estar na Lei, não era um princípio eterno, mas uma questão prática, uma espécie de “band-aid” contra a queda humana.
A ordenança de Deus para “uma só carne” estava acima da formulação de qualquer carta de divórcio, portanto, não adiantaria se referir ao divórcio ligando-o à vontade de Deus. Desse modo, qualquer rompimento do matrimônio revelaria a impossibilidade do ser humano de viver de acordo com os padrões divinos.
Se você se basear apenas nesse texto para estudar o divórcio na Bíblia, ignorando o restante das Escrituras, você não encontraria exceções mencionadas. Jesus apresenta o matrimônio em uma realidade espiritual pura, sem possibilidade de rompimento. Se os cônjuges tivessem uma espiritualidade elevada jamais considerariam o divórcio. Por isso, as exceções eram “permitidas” não porque Deus quis, mas por causa da fraqueza humana.
Outro texto que vai na mesma linha é o de Lucas 16:18. Vejamos.
“Quem repudiar a sua mulher e casar com outra comete adultério; e aquele que casa com a mulher repudiada pelo marido também comete adultério.”
Lucas 16:18
O texto de Lucas 16:18, assim como o de Marcos, não apresenta nenhuma exceção para o divórcio. Dentro do contexto, o objetivo do autor é a comparação entre Lei e Evangelho, sendo que a Lei era “moldada” de acordo com a situação. A Lei poderia ser interpretada de forma tendenciosa, mas Cristo deixa claro que o “matrimônio ideal”, sem possibilidade de divórcio, era o plano original de Deus. As exceções seriam um “remédio ruim” em meio a um povo duro de coração.
Em uma posição mais estrita, o pastor John Piper usa esse texto para rejeitar novos casamentos (com exceção da morte do cônjuge, como veremos mais adiante). Segundo ele, o texto mostra que Cristo não reconhece o divórcio como o término de um casamento. Portanto, um novo casamento seria um ato de adultério. Um fator que pesa contra essa ideia é o texto da mulher samaritana, onde Cristo parece reconhecer os cinco maridos dela (abordaremos isso adiante).
Outra posição acrescenta que o conceito de adultério em Jesus não é sobre um estado que você entra quando se divorcia, mas, uma forma de se relacionar com o próximo. O adultério seria o olhar e o desejar de forma desfigurada e impura.
Nesse pensamento, quem é denunciado no texto é quem está permitindo que o desejo desconfigure tanto a relação quanto o próximo. Não fosse assim, o desejo perverso poderia se transformar em uma arma de manipulação no casamento. Imagine um homem dizendo para a mulher: “Você está nas minhas mãos! É melhor fazer o que quero senão vou embora. Já pensou se você vira uma mulher divorciada? O que vão pensar?”.
Outra consequência é que o desejo impuro poderia ser usado como pretexto para o homem não se comprometer. É um desejo oculto que poderia fazê-lo “pular” de relacionamento em relacionamento, buscando cada vez mais satisfação. Isso banalizaria a profundidade do compromisso no casamento.
Assim, para alguns, o texto de Lucas 16:18 estaria apontando para essas situações relacionadas à banalização do compromisso, fruto de desejos impuros que só causam destruição e desfiguram a ideia divina para o casamento.
“Jesus disse: — Vá, chame o seu marido e volte aqui. Ao que a mulher respondeu: — Não tenho marido. Então Jesus disse: — Você tem razão ao dizer que não tem marido. Porque já teve cinco, e esse que agora tem não é seu marido. O que você disse é verdade”.
João 4:16-18
O evangelho de João traz uma situação que não fala diretamente sobre divórcio, mas que lança luz sobre a forma como Cristo tratou uma mulher que, ao que tudo indica, banalizou o casamento e o divórcio (e ainda era samaritana!).
A mulher samaritana já tinha tido cinco maridos e estava no sexto caso. Ao chamar os cinco primeiros homens de maridos, Jesus parece estar reconhecendo os cinco casamentos, o que não aconteceu com o sexto caso: “…e esse que agora tem não é seu marido”. Portanto, tudo aponta para a legitimidade dos casamentos da mulher.
Dito isso, Cristo tocou na mais dolorosa ferida da vida dela, um passo necessário para a cura. Jesus apontou o pecado para que ela “abrisse os olhos”, mas não fez isso de uma forma condenatória. Ele não disse: “Já se divorciou 5 vezes? Misericórdia! Está tudo errado aí!”.
Ele simplesmente mostrou que a satisfação que ela tanto buscava não estava nos homens e casamentos, mas na vida que só ele poderia dar. As necessidades dela não eram físicas, mas na alma. Ela foi curada, perdoada, restaurada e no mesmo dia passou a levar a mensagem messiânica de Cristo em sua região.
Por que citei essa história? Primeiro, para você perceber a diferença entre a forma como Cristo respondeu os fariseus e a forma como ele tratou a mulher samaritana. Segundo, para você notar que os casamentos e divórcios dela não a impediram de ser perdoada, restaurada e ainda se tornar uma “missionária” de Cristo.
Outra coisa interessante é que Jesus não mandou a mulher voltar para o passado e se reconciliar com o primeiro marido. Aquilo tudo havia ficado no passado. Isso pode significar que relacionamentos passados devem ficar para trás. Quando a pessoa vem para Cristo o que importa é o matrimônio atual. O esforço do novo convertido é fazer essa união seguir em obediência a Deus.
Na atualidade, é comum que alguns cristãos tratem uma pessoa divorciada como se ela tivesse alguma doença contagiosa ou como se tivesse cometido algum pecado imperdoável e não pudesse ser restaurada. No caso da mulher samaritana, Cristo não trouxe a ela mais culpa do que o necessário para o arrependimento e o perdão. Em nenhum momento, ele a condena ao inferno por estar no sexto caso. Cristo traz a ela consciência do pecado, perdão e restauração.
Naturalmente, há casos e casos. Nem todo mundo se comporta como a mulher samaritana, com sinceridade e humildade. Todavia, não cabe a nós oprimirmos as pessoas, fazendo-as sofrer com peso e culpa desnecessários. Não parece razoável rejeitar, como membros de uma igreja, um casal com um matrimônio firme, com filhos, uma vida construída, cujos cônjuges originais já casaram e constituíram outras famílias. Não parece razoável rejeitar essas pessoas devido a complicações em casamentos do passado, antes de conhecerem a Cristo.
Certamente, a abordagem de Jesus com a “mulher do poço” tem muito a nos ensinar sobre como tratar alguém que enfrentou problemas com o matrimônio.
“Ou vocês não sabem, irmãos — pois falo aos que conhecem a lei —, que a lei tem domínio sobre uma pessoa apenas enquanto ela está viva? Por exemplo, a mulher casada está ligada pela lei a seu marido, enquanto ele vive; mas, se o marido morrer, ela ficará livre da lei conjugal. De modo que será considerada adúltera se, enquanto o marido estiver vivo, ela se unir com outro homem. Mas, se o marido morrer, ela estará livre da lei e não será adúltera se casar com outro homem”.
Romanos 7:1-3
Nesse texto, Paulo introduz mais exceção para o divórcio: a morte do cônjuge. Se o cônjuge morrer a pessoa está livre para seguir com a vida. O que não pode é haver “duas lealdades” simultaneamente.
A pessoa não pode simplesmente se casar com outra pessoa se o cônjuge original estiver vivo e com o casamento vigente. Se uma mulher se unir a outro homem, tendo o marido vivo, estará cometendo adultério. O mesmo parece valer para o homem.
Veremos o que Paulo falará em Corinto.
“Aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido. Mas, se ela se separar, que não se case de novo ou que se reconcilie com o seu marido. E que o marido não se divorcie da sua esposa. Aos outros, digo eu, não o Senhor: se algum irmão estiver casado com uma mulher não crente, e esta concorda em morar com ele, não se divorcie dela. E se uma mulher estiver casada com um homem não crente, e este concorda em viver com ela, que ela não se divorcie do marido. Porque o marido não crente é santificado no convívio da esposa, e a esposa não crente é santificada no convívio do marido crente. Se não fosse assim, os filhos de vocês seriam impuros; porém, agora, são santos. Mas, se o não crente quiser separar-se, que se separe. Em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus chamou vocês para viverem em paz”.
1 Coríntios 7:10-15
No texto de 1 Coríntios 7:10-15, antes de Paulo adicionar mais uma exceção para o divórcio, ele reforça que a mulher não se separe do marido. Se houver separação (Paulo parece saber que separações serão inevitáveis), que haja luta pela reconciliação.
Por que ela desejaria se separar? Na sociedade coríntia, as mulheres podiam se divorciar de seus maridos, diferente da sociedade judaica. O motivo da separação (versículos 10 e 11) não parece estar relacionado necessariamente a adultério, mas também a outros motivos.
Um deles estaria ligado ao partido dos ascetas, que viviam como celibatários. Algumas mulheres casadas poderiam sentir mais desejo em viver assim, do que em continuar casadas. Por isso, se separavam dos maridos. Paulo parece ordenar a reconciliação, caso a mulher não conseguisse se manter celibatária.
Quanto aos casamentos “mistos” (crentes com não crentes), se o incrédulo concordar em morar com o crente, que o crente não busque o divórcio (versículos doze e treze). O esforço do cônjuge crente, como um sincero seguidor de Cristo, é tentar conservar o casamento, tolerando ao máximo as dificuldades que aparecem, pois, o cônjuge não crente pode ser levado aos pés de Cristo. Deve haver um esforço honesto na evangelização do cônjuge incrédulo.
O versículo catorze parece legitimar os casamentos “mistos”, embora não seja recomendado que o crente procure cônjuge não crente. Diferentemente dos judeus, que consideravam o casamento com pagãos inválidos, na igreja primitiva os casamentos “mistos” tinham validade. Portanto, tais casamentos, que são devidamente reconhecidos perante a lei civil também devem ser legítimos perante os olhos da igreja.
Agora, abordarei mais uma exceção paulina para o divórcio.
Alguns defendem que a exceção que Paulo adiciona no versículo quinze permite a um crente casar-se de novo, se o cônjuge incrédulo o tiver abandonado ou quiser dissolver o matrimônio. Se o incrédulo desejar o divórcio, o cônjuge crente ficaria desobrigado desse matrimônio e, após o processo legal, estaria livre para casar novamente, mas dessa vez, “no Senhor”, ou seja, com outro cônjuge crente (versículo 39).
Outros argumentam que o versículo não menciona nenhuma “permissão” para um novo casamento, apenas, que desobriga o cristão a lutar pela união. Ou seja, o crente não é obrigado a viver com incrédulo, caso o incrédulo deseje se apartar.
O que aconteceria se o cônjuge crente quisesse se divorciar do cônjuge incrédulo? Nesse caso, a exceção paulina não se aplica. Não deve ser o crente a dar início a um processo de divórcio.
E, se os dois cônjuges forem crentes? Nesse caso, a ordenança é que não se separem. Paulo parece proibir novo casamento, tanto para o homem como para a mulher, quando se trata de um casal crente.
Outras perguntas surgem. Se o cônjuge crente é abandonado por outro cônjuge crente, sem um forte motivo, como, por exemplo, o adultério? E, se o cônjuge crente deseja se divorciar de outro crente? O crente “rejeitado” fica livre para se casar novamente?
Há uma corrente de pensamento que diz que sim. O argumento é que um crente que deseja o divórcio sem motivo (ou por motivo fútil) possivelmente não se trata de um crente genuíno. O reformador Martinho Lutero defendia que até mesmo o casamento de “crentes aparentes” poderia ser dissolvido, quando ficasse evidente que um dos cônjuges não era um crente sincero, considerando os seus frutos.
Isso fica claro quando um suposto crente se separa de outro crente e logo cai no mundo de pecado, se desligando da igreja e buscando novo(s) parceiro(s), revelando suas reais intenções. Melanchton, teólogo e colega de Lutero, também admitia o divórcio em caso de deserção. Obviamente, se a situação não for tão clara, pode-se cometer erros de julgamento e alguns crentes abusarem dessa “exceção”.
Em uma posição oposta, John Piper nem considera essa ideia porque para ele o crente abandonado não deveria sequer cogitar um novo casamento. De qualquer forma, se um crente banalizar essas questões, aí será entre ele e Deus.
No final do versículo quinze, Paulo diz que Deus nos chamou para a paz. Possivelmente, isso significa que temos um chamado para termos paz com Deus e com nossos semelhantes. Em Corinto, como em outras regiões, a nova fé em Cristo estava causando muita confusão, especialmente quando apenas um dos cônjuges se convertia. Era normal haver perseguição e abusos dentro de casa por causa da fé, o que perturbava a paz com Deus e com os semelhantes.
A cláusula de exceção pode ter aparecido por causa desse cenário de “guerra”, desobrigando o cônjuge crente a viver em um ambiente tão opressor, especialmente se todas as tentativas de ganhar o incrédulo para Cristo falharam.
Fica claro, porém, que a exceção não é o ideal paulino. Para Paulo, o melhor caminho é lutar com todas as forças pelo casamento, transformando o lar num campo missionário. Nesse campo, como em qualquer outro, existe luta e perseguição. A persistência sob opressão, ao mesmo tempo em que o crente tem uma vida piedosa em meio às lutas, pode amolecer até o mais duro coração. Por isso, para Paulo vale a pena dar oportunidade para o casamento funcionar.
Agora, esgotadas todas as possibilidades, um “mal menor”, como o divórcio, poderia ser a “saída” paulina para um “mal maior”. Para alguns, isso poderia incluir também os abusos extremados, violência física, risco de morte entre outros.
Entretanto, todas essas tentativas de trazer as aplicações da época para os problemas de hoje são conjecturas pessoais extra-bíblicas e motivos para debates intermináveis. Existem correntes de pensamento para todos os lados.
A sociedade judaica não era uma tão complexa quanto a sociedade atual. Conforme a humanidade foi crescendo e as sociedades evoluindo, novos problemas foram surgindo. Na época de Cristo, era muito mais fácil “enfrentar” um casamento que não estava indo bem porque existia um relacionamento muito estreito entre as famílias dos cônjuges, o que provavelmente contribuía para diminuir os casos de separação. Era muito mais fácil encontrar amparo emocional para continuar no matrimônio. Por esta razão, não encontramos nas Escrituras aplicações claras sobre alguns dos problemas que enfrentamos hoje. São contextos muito diferentes.
Dito isso, quero levantar mais algumas questões. O que fazer quando há violência no casamento, quando o marido espanca a mulher ou vice-versa? E, se houver situações extremas como estupro da mulher e/ou filhos? E, quando um dos cônjuges cai num vício que impossibilita a convivência pacífica na família? E, se, após o casamento, o marido ou a esposa começar a apresentar algum problema psicológico sério (psicopatia, dupla personalidade entre outros)? E, se houver risco real de morte? E, se um dos cônjuges alegar que “não há mais amor”? Nestes casos, o casamento pode ser dissolvido?
O fato é que a Bíblia não aborda esses casos especificamente. A escola de Shamai era mais rígida, já a escola de Hilel, mais liberal. Com os fariseus, Cristo abordou o casamento do ponto de vista do ideal divino. Todavia, ao tratar com a mulher samaritana (com seus prováveis cinco divórcios), a questão veio à tona de uma maneira muito diferente, com Cristo “tocando na ferida” apenas o necessário para ela se arrepender, ser curada e recomeçar a vida.
Dentro do contexto da igreja primitiva, Paulo vai ampliar um pouco mais o debate, trazendo algumas supostas exceções para o rompimento. Contudo, nenhum dos textos bíblicos aborda os problemas atuais com clareza. Por isso, há tantas discussões e correntes diferentes de pensamento. De fato, teólogos e sociólogos enfrentam um grandioso desafio para aplicar os princípios aos complexos problemas atuais.
O que fazer diante disso? Alguns admitem que o casamento pode ser dissolvido se problemas extremados aparecerem: violência grave, risco de morte, problemas psicológicos sérios entre outros. Nesses casos, o divórcio seria um “mal” menor em troca de um “mal” maior.
Como já tratado anteriormente, para alguns, a exceção paulina poderia ser aplicada aqui porque mesmo que o cônjuge frequente a igreja, se ele leva uma vida completamente contrária aos ensinamentos bíblicos, estaria “provando” ser um incrédulo. Mesmo assim, a ordenança de Paulo é que o cônjuge crente lute pelo casamento até esgotar todas as possibilidades. Isso deve envolver no processo muita oração e aconselhamento pastoral. Posteriormente, havendo abandono irreversível ou desejo firme do incrédulo de se separar, o cônjuge crente estaria livre da servidão e poderia recomeçar a vida.
O maior problema com essa interpretação é cometer o mesmo erro da escola de Hilel, que se tornou liberal, banalizado o casamento. Fora os cenários extremados, não se costuma abrir exceções porque as pessoas são “duras de coração” e passarão a buscar o divórcio por problemas banais. Assim é a natureza humana.
Outra corrente de pensamento, mais estrita, não permite o divórcio, a não ser em caso de adultério, conforme os textos de Mateus. Nesse caso, o que aconteceria em caso de risco de morte? Alguns aconselham simplesmente o afastamento para um local seguro. Por exemplo, uma mulher que é agredida pelo marido bêbado, poderia pedir ajuda aos familiares, líderes religiosos e autoridades civis. Para sua própria segurança, ela poderia morar em outro lugar por um determinado período ou, em casos extremos, pediria divórcio e seguiria com sua vida sem se casar novamente, vivendo “para o Senhor”.
Naturalmente, toda essa situação provavelmente “forçaria” o marido a decidir, ou pela mudança de vida, ou por seguir com sua vida de pecado. Para alguns, havendo a possibilidade de mudança, nesse caso, o conselho é que haja restauração e que vivam em paz.
Caso não haja arrependimento, possivelmente, o homem escolherá a vida de pecado. Na experiência humana, a vida de pecado do homem provavelmente incluirá a relação com uma nova mulher, o que “permitiria” à esposa original estar livre para recomeçar a vida.
Nesse processo, o ideal é que a mulher nem pense em um novo marido ou algo parecido, mas sim, que se volte para o Senhor e se dedique a Ele. Há pessoas que só ficam esperando o cônjuge original adulterar, para se divorciar e, no minuto seguinte, encontrar um novo caso. Não custa repetir: não banalize o casamento!
Em caso de violência e, especialmente, risco de morte, muitos aconselham que o cônjuge recorra também às autoridades civis. Onde há violência doméstica a aliança da família foi quebrada (Provérbios 31:8,9). Se uma pessoa cometer um crime, ela pode ser denunciada e, de acordo com a lei, ser julgada e condenada.
Em Romanos 13:4, Paulo fala que as autoridades são “ministros de Deus” para o bem social. A “espada” não é mera decoração, mas um castigo contra a maldade. Aqueles que estão em posição de autoridade civil devem julgar e punir o mal, com verdade e justiça. Portanto, em situações extremas, deve-se recorrer às autoridades civis.
Apesar dos mais variados problemas que um casamento pode ter, é necessário ficar claro que o divórcio nunca fez parte do plano original de Deus. A união permanente sempre foi o ideal divino. Por isso, quando esse “desenho” de Deus é quebrado vem dor e sofrimento.
O pecado traz consequências ruins. Toda vez que o ser humano “erra o alvo” enfrenta problemas com Deus. O rompimento de um casamento, apesar das supostas “permissões” que vimos, é uma quebra de um padrão divino, como Cristo ensinou.
Por isso, você deve ficar ciente que um divórcio normalmente é acompanhado por tribulação, estresse, sofrimento, pressão emocional, feridas na alma, confusão entre outros problemas. Se há filhos, eles também são envolvidos em duro sofrimento. A família inteira pode ser abalada, pois, é comum que também sejam envolvidos os sogros, irmãos, avós e até tios e primos. Não é incomum que pessoas divorciadas carreguem “marcas” para a vida inteira.
Portanto, reforço a seguinte mensagem: não banalize o casamento. Não banalize o que Deus tanto preza. Evite com todas as forças passar por um processo de divórcio. Se o divórcio é um “mal permitido”, para se evitar um “mal” maior, mesmo assim, ele continua sendo mal. Apesar das “permissões” bíblicas, a união permanente sempre foi o desejo de Deus.
Depois de tudo o que vimos, quero apresentar as quatro correntes de pensamento em que os cristãos normalmente se dividem:
Se você frequenta alguma igreja cristã, ela provavelmente se encaixa em uma dessas quatro correntes. Procure conhecer mais sobre as posições da sua igreja.
Vimos que o ideal de Deus para o matrimônio é a união permanente. Com o casamento, homem e mulher se tornam “uma só carne” (Gênesis 2:24). Contudo, por causa da maldade humana, a lei mosaica passou a permitir o divórcio.
O problema é que os homens “torciam” o texto da lei a seu favor em detrimento das mulheres. Eles banalizavam tanto o casamento que mandavam a esposa embora por motivos fúteis como “queimar a massa do pão” ou “ter um cheiro estranho”.
No contexto de Malaquias, encontramos um cenário de corrupção generalizada. Os homens trocavam suas esposas mais “velhas” por mulheres mais “jovens”, e isso também incluía os sacerdotes. O povo escolhido estava afundado em profunda desobediência. É aqui que o profeta deixa claro que Deus odeia o divórcio.
Para tentar Jesus, os mal-intencionados fariseus fazem a pergunta sobre divórcio, para ver de que lado ele se posicionaria (mais liberal ou mais estrito). Surpreendentemente, Cristo não toma nenhum partido, mas “corrige” a visão dos fariseus lançando luz sobre o plano original de Deus para o casamento.
O Senhor apresentou uma visão muito mais elevada sobre o assunto, de forma que, se os judeus fossem realmente obedientes e piedosos, nem cogitariam o divórcio. Com sabedoria, ele revisitou a ideia original de Deus para o matrimônio (que ficava muito acima do pensamento judeu).
A única suposta “exceção” de Cristo para o rompimento é apresentada em Mateus: relações sexuais ilícitas. Todavia, fica claro que não era uma “ordenança”, mas uma excepcionalíssima “permissão”. O divórcio nunca seria um “bem”, mas um “mal” originado na dureza do coração humano. Vale lembrar que, em caso de traição acompanhado por arrependimento, o perdão é um instrumento de restauração, sendo o caminho preferível a ser trilhado.
João traz uma situação que não fala diretamente sobre divórcio, mas revela como Jesus tratou uma mulher com cinco divórcios no seu passado. O que chama a atenção nessa passagem é a diferença entre a conversa de Cristo com os fariseus e a conversa com a mulher samaritana.
Com os judeus, Cristo parece duro e inflexível, não sem razão: eles faziam perguntas não porque estavam sinceramente atrás da verdade, mas, porque queriam “pegar” Jesus em polêmicas ou contradições.
A mulher samaritana, por outro lado, foi sincera e humilde para se arrepender e receber a cura. O fato de ela ter tido cinco maridos, cinco divórcios e um sexto “caso impróprio” não foi motivo para Cristo colocar sobre ela peso e culpa desnecessários. Aliás, não existe nenhum versículo dizendo que os divorciados vão para o inferno ou que o divórcio é um “pecado imperdoável”.
Isso é importante porque em alguns círculos cristãos as pessoas divorciadas são tratadas com desprezo, como se fossem “impuras” ou como se tivessem cometido algum pecado sem perdão. Cristo não agiu assim. Portanto, pessoas sinceras com problemas nessa área devem ser tratadas com amor, em um ambiente que promove o arrependimento, a cura e a restauração.
Lembre-se que até aqui o divórcio está sendo abordado no contexto judaico. Paulo vai ser o apóstolo a abordar o tema no contexto da igreja primitiva, especialmente em Romanos 7:1-3 e 1 Coríntios 7:10-15.
Nessas passagens, Paulo vai adicionar mais algumas informações sobre casamento e divórcio dentro da “borbulhante” igreja do primeiro século. Em Romanos, ele menciona mais uma exceção para o divórcio: morte do cônjuge. Em Coríntios, ele adiciona mais exceções e aplicações práticas, fruto do contexto da igreja de Corinto.
Primeiro, Paulo ordena que a mulher não se separe do marido. Se houver separação, que haja luta pela reconciliação.
Segundo, Paulo “permite” o divórcio em casamentos “mistos”, apenas quando o incrédulo deseja o rompimento. Todavia, isso seria em último caso, após um esforço sincero do crente em levar o cônjuge incrédulo aos pés de Cristo. Caso o incrédulo esteja firme em sua decisão pelo divórcio, o crente estaria livre para se casar novamente, dessa vez, “no Senhor”, ou seja, se casando com outro crente (2 Co 6:15). Naturalmente, todo o processo civil deve ser respeitado.
Terceiro, um casal de crentes não teria “permissão” para o divórcio. Eles devem se esforçar com humildade e piedade para manter firme o casamento. Vale lembrar a interpretação de alguns sobre o termo “crente”, pois uma pessoa pode se dizer crente, mas os seus frutos dizerem o contrário e ela desejar abandonar o cônjuge para viver segundo os padrões do mundo. Segundo Lutero, um casamento com um “crente aparente” poderia ser dissolvido, porque “crentes aparentes”, na verdade, são considerados incrédulos.
Contudo, devemos ter cuidado com essa interpretação para evitar abusos e banalizações, afinal, cada caso é um caso. Por isso, os cônjuges devem ser acompanhados por pastores locais e conselheiros capazes.
O que fazer em casos de violência no casamento? E, se houver risco de morte? E, se um dos cônjuges cair em um vício que impossibilita a convivência da família? E, se um dos cônjuges se tornar uma pessoa completamente diferente (o que pode incluir problemas psicológicos) depois de casar? O que a Bíblia fala sobre isso?
Evidentemente, as Escrituras não trazem aplicações práticas para todas as situações da atualidade. Ela não aborda casos tão específicos como os citados acima, por isso, surgiram e continuam surgindo vários correntes de pensamento.
Alguns defendem que o casamento pode ser dissolvido se problemas extremados aparecerem. Nesses casos, seria um “mal” menor em troca de um “mal” maior. Outros defendem que não haja divórcio, mas uma separação física temporária (ou dependendo do caso, permanente). Por exemplo, a mulher se afasta do marido violento por um tempo para “incentivar” o arrependimento e mudança de atitude. Posteriormente, ela poderia decidir de forma definitiva.
Nesses casos, a Bíblia parece não abordar novo casamento. Não há clareza sobre isso. Em todo caso, sabemos que nada disso é o ideal divino. Paulo reforça que o cônjuge crente lute pelo casamento até esgotar todas as possibilidades. Isso vai incluir muita oração, espírito piedoso e aconselhamento pastoral.
Em casos de violência e risco de morte, é aconselhado que a vítima recorra imediatamente aos familiares, líderes religiosos e autoridades civis. No caso, as autoridades civis são “ministros de Deus” para o bem social (Romanos 13:4).
Para finalizar, preciso relembrar as possíveis consequências do divórcio. Isso porque toda vez que o homem “erra o alvo” ele enfrenta consequências ruins. O rompimento de um casamento, apesar das “permissões”, é uma quebra de um padrão divino. As pessoas devem estar cientes que o processo do divórcio normalmente é acompanhado por sofrimento e tribulação.
Portanto, se você é casado, lute pelo seu casamento com todas as forças possíveis. Não banalize o que Deus tanto preza. Apesar das supostas “exceções”, o caminho do rompimento é muito tortuoso e difícil. O plano original de Deus sempre foi a união permanente entre homem e mulher. Não há melhor motivo para você lutar por essa causa.
Para ser didático, finalizo este material sobre divórcio na Bíblia com um resumo do conteúdo em dez curtos pontos:
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Que o Senhor lhe abençoe!
Ramon Tessmann
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